11 de dezembro de 2014

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, OUTRAS INDICAÇÕES

Aos pouquinhos vou compartilhando minhas aquisições literárias com vocês, mostrando a maravilha de levar para as crianças a nossa cultura de forma positivada e a literatura infantil é uma excelente porta de entrada. Aqui vocês encontram reis, flora, música, dança, religiosidade, resistência... muitos elementos no meio de histórias escritas e ilustradas de forma envolvente. Ressalto que desta vez tem uma indicação de literatura colombiana que singelamente mostra elementos da cultura afro-colombiana. Boa leitura para todos!!!

BENEDITO
História e ilustração: Josias Marinho
Editora: Caramelo

Benedito é uma criança que começa a ganhar cor quando sente a batida do tambor do Congado, em que ele revive a memória de seus ancestrais e se encontra, porque se reconhece. O livro é um convite para conhecermos um pouco mais sobre essa manifestação cultural e religiosa afro-brasileira que uni dança, história, canto e fé.

JACINTO E MARIA JOSÉ
História e ilustração: Dipacho
Editora: Scipione


É a poesia do cotidiano inspirada na amizade de duas crianças, assim o autor colombiano retrata um pouco da sua cultura e nos brinda a conhecer elementos do seu país. Podemos ver a relação que os afro-colombianos construíram com a natureza, a belezura dessa confluência cultural e principalmente a importância dos afro-descendente para construção sócio-cultural da América Latina.

EXU E O MENTIROSO
Recontado por: Rogério Athayde, a partir de um conto yorubá
Ilustradora: Clara Zúñiga
Editora: Pallas

O livro é um excelente pontapé para desconstruirmos a visão maniqueísta que as culturas afro-descendentes sofrem. Todos dizem que Exu é um demônio, só não pararam para questionar o que de fato é o Exu. O livro, inspirado em uma história yorubá que tem um protagonista muito mentiroso desafiado por um rei que ficou cansado de suas mentira. Pois bem, o livro só tem um final feliz porque Exu salva a vida do protagonista e lhe dá uma bela lição para nunca mais contar mentira.
Além de todos os méritos que Athayde deve receber por trazer essa história para crianças mostrando a verdadeira faceta do orixá Exu, não podemos ignorar o fato de que Clara Zúñiga facilitou sua vida, trazendo lindíssimas ilustração em tecido e com todas as páginas emolduradas com elementos simbólicos para a cultura afro. Ou seja, esse livro dá pano para manga!!!!!

QUANDO A ESCRAVA ESPERANÇA GARCIA ESCREVEU UMA CARTA
Escritora: Sonia Rosa
Ilustradora: Luciana Justiniani Hees
Editora: Pallas

Um livro infantil que conta uma história real, a de Esperança Garcia, mulher escravizada que resolve escrever uma carta para o governador reclamando dos maus tratos sofridos. Uma carta que é documento histórico e que se tornou a primeira petição pública brasileira. O livro com ilustrações que emocionam e faz você viver cada linha dessa história que Sonia Rosa teve a belíssima ideia de compartilhar com as crianças, mostrando um mulher-negra-guerreira lutando pela sua liberdade, reforçando as diversas ações de luta contra escravidão. O livro aproxima as crianças de documentos históricos e coloca de forma sensível a violência simbólica das separações.

 

NANA & NILO
(QUE JOGO É ESSE? e APRENDENDO A DIVIDIR)
Escritor: Renato Noguera
Ilustrador: Sandro Lopes
Editora: Hexis
Página do livro: http://www.nanaenilo.com.br/

Esses dois livros contam a história de um casal de gêmeos que estão crescendo e aprendendo a lidar com sentimentos que vão desde dividir um brinquedo ao perder um jogo. Mas toda as dificuldades ficam simples para esses pequenos com a ajuda de Mulemba, uma figueira africana mágica. A cada angústia as crianças são levadas a uma viagem à ancestralidade delas, bem no coração das infâncias africanas e lá encontram saberes que dialogam com suas dúvidas e fazem com que voltem com aprendizados singulares que ressignificam suas relações.
Além da história ser bem legal o livro é uma excelente ferramenta de alfabetização, pois é todo em caixa alta e para os professores que gostam de dialogar com todas as áreas do conhecimentos eles dão um bom projeto.



27 de novembro de 2014

O GOTEJAR DE OMBELA


Nesse ano foi lançado o livro Ombela, a origem das chuvas do grande escritor angolano Ondjaki e quando me deparei com ele em uma feira de livro não resisti e comprei, pois o desejo de usá-lo em uma atividade com as crianças foi tão grande que a prática emergiu de forma gostosa e aqui compartilho com vocês.
Iniciei as atividades lendo o livro que conta a sensível história da deusa Ombela (Chuva em Umbundu) que fazia chover ao chorar – não vale contar mais porque ler o livro é essencial. As crianças se envolveram com o conto e adoraram perceber alguns elementos da história como a sabedoria dos velhos e a ausência do bem e do mal, fiquei muito feliz com esses olhares que é fruto de trabalhos realizados durante todo não. 


 

Em seguida, pensando nas gotas da chuva montamos um cartaz cheios de gotas e refletimos que quando a chuva cai no solo ou até mesmo em um rio ela segue um curso, ela corre... com isso fizemos pinturas com escovas de dentes – aquelas velhinhas que iriam para o lixo - reproduzindo esse caminho da água. Apropriados do curso e das gotas da água partimos para um pouco de ciências e descobrimos que existe o ciclo da água através de imagens. Vimos o caminho que a chuva faz e percebemos que as gotas de chuva estavam presentes no caminho também, então brincamos com carimbos de gotas e enchemos as folhas de gotas de chuva.



 

Depois dialogamos todo conhecimento adquirido com uma técnica de pintura gotejar (dripping). Apreciamos algumas obras de artes com essa técnica e conhecemos um pouco de como o artista plástico Pollok pintava, assim fizemos obras de artes inspiradas nas lágrimas e Ombela.

 

 

Em seguida resolvemos partir para a prática e perceber como as chuvas se formam de verdade, nós tornamos cientistas e experimentamos tudo. Inicialmente observamos a água fervendo e todos puderam concluir que a água aquecida vira vapor, em seguida colocamos a água numa garrafa pet e fechamos, as paredes da garrafa se encheram de gotículas de água oriunda do vapor. Observamos bem e após todo mundo ganhou um sacolé de água congelada e assim perceberam que o gelo vira água. Lógico que depois de tantas descobertas e experimentos tivemos que fazer desenhos dos registros e treinamos nosso grafismo.

 

 

 

 

E quem se perguntar se incorporamos a matemática nisso tudo eu digo que sim, nós construímos um gráfico do tempo, no qual todo dia observamos e registramos como estava o tempo.


E para fechar com muita festa realizamos uma grande chuva de tinta no tecido que virou nosso painel. Após todos os alunos vivenciarem como as chuvas se formavam e travarem um diálogo sensível com as lágrimas de Ombela construíram um móbile de chuva para que os responsáveis ,quando passassem pela exposição, chegassem bem pertinho dessa deusa. Quando perguntamos aos nossos guias da exposição como eles falariam para os pais sobre a chuva eles disseram que iram explicar a partir a história de Ombela: "Porque essa era mais bonita!!!", mesmo sabendo a explicação científica para chuva. E assim descobrimos, experimentamos e escolhemos.

 


 


 



23 de novembro de 2014

É POSSÍVEL APLICAR A LEI 10.639/03

Findando-se o mês da consciência negra não poderia deixar de apresentar um colégio no bairro do Engenho Novo, Zona Norte do RJ. A escola traz em sua metodologia a pedagogia de projetos o que leva à dialogia com interdisciplinaridade de forma intensa, propiciando a aplicação da lei 10.639/03 em seu cotidiano. O nome desse espaço que nos prova que é possível ensinar história e cultura africana e afro-brasileira é Colégio AIACOM.

A escola passa por cima das principais dificuldades para a aplicação que é o despreparo e ausência de conhecimento sobre o negro no Brasil e sobre a África oferecendo formação todos os anos sobre a temática, as vezes uma vez as vezes várias vezes ao ano dependendo de como o corpo de funcionários está lançando olhares à temática. Paralelo a isso os coordenadores fazem reuniões semanais de planejamento com a equipe, o que dá para direcionar possíveis dúvidas sobre a aplicabilidade de alguns conceitos. A equipe técnica, composta por coordenadores e direção, faz reunião quinzenalmente e havendo necessidade semanalmente. Outro aspecto que deve ser colocado aqui que facilita o debate de formação dos professores é que a gestão está a um passo de se tornar uma gestão democrática, pois vem buscando a participação de todos – alunos, responsáveis, professores, equipe técnica e equipe administrativa. Os funcionários podem se colocar sempre e os espaços de avaliação institucional são realmente levados a sério.

Bem, resolvi falar dessa instituição e compartilhá-la com vocês porque todo ano no mês de novembro eles trazem suas atividades para o público, sendo mais que uma comemoração e sim uma culminância dialógica com a comunidade. Para que os conhecimentos ultrapassem os muros da escola. Nesse ano tiveram 4 semanas: Semana do Festival de Cinema Negro, Semana da Sonoridade Étnica, Semana da Consciência Negra, Semana da Roda Dialógica de Africanidades.

Nessa segunda-feira, dia 24 de novembro, acontece a última semana de programações, a semana “Roda Dialógica de Africanidades”, onde terá o grande João Costa Baptista falando sobre os quilombos brasileiros. Valorando nossas lutas e forças. Temos também dia 28 de novembro a fortaleza das Meninas Black Power. Imperdível!!!!! Tanto conhecer a escola como participar desses dois dias.



Vale também curtir a página no FACEBOOK: https://www.facebook.com/aiacomsic?fref=ts e conhecer mais sobre a instituição no site: http://www.aiacom.org.br/

26 de outubro de 2014

A GEOMETRIA NO BAOBÁ DE OBAX

Livro: Obax
Texto e Ilustração: André Neves
Editora: Brinque-Book

A delícia de trabalhar com o livro Obax é indescritível, já é ser o terceiro ano que faço um trabalho com ele e cada vez que o utilizo uma coisa nova emerge, a simbologia que o baobá carrega é muito bem exemplificado com sua chuva de flores que finaliza a história e legitima a menina que adora contar histórias. Nesse ano mergulhamos nas formas geométricas e trouxemos conceitos matemáticos para a Educação Infantil.
Inciamos as atividades fazendo a contação da história que logo deixou todos bem atentos, pois o livro é lindo e envolvente. Após contar a história conversamos um pouquinho sobre o baobá e sua simbologia. Em seguida falamos das flores hexagonais africanas, e mostramos a forma geométrica. Mais importante do que aprender o nome hexágono que é bem difícil de uma criança com 3-4 anos falar foi apresentar os números, contar, diferenciar lados de ângulos e fazer com que percebam o que é uma forma geométrica.Após apresentarmos a forma geométrica montamos a flor como se fosse um quebra cabeça, com cores variadas. Acredito na importância das crianças terem escolhas nas produções. Enquanto alguns montavam o quebra-cabeça flor africana outros brincavam de fazer flor com massinha.


No dia seguinte retomamos a história Obax e usamos como apoio o livro Ao Sul da África. Apresentamos as diversidade da flora africana. Percebemos formatos geométricos em algumas e apresentamos o quadrado, contamos seus ângulos e lados e montamos uma flor com essa forma. Em seguida fizemos mistura de cor até eles chegarem a cor mais próxima do tronco do baobá depois de observarmos diversas imagens da árvore. Misturamos branco com marrom, e é uma delícia misturar cores com as crianças, trabalhamos tonalidade de cor, claro e escuro, e usamos as mãos para pintar. É uma sensação deliciosa sentir textura e temperatura da tinta.

 

 

Outra atividade desenvolvida foi observar as partes da flor, vimos o miolo, a pétalas, o pólen e até o ovário, aprendemos que o fruto nasce de uma flor. Após retomamos a imagem da flor do baobá e percebemos que ela tem cinco pétalas, então apresentamos o pentágono, montamos a flor a partir dessa forma com o miolo feito de algodão. Sentimos a textura do algodão e usufruímos de sua maciez passando na nossa pele. Nesse mesmo dia desenvolvemos outra atividade com as crianças: a criação de um baobá feito com as mãos e braços, cheio de flores coloridas que foram feitas de carimbo de rolha de vinho. Para tal atividade percebemos como os troncos da árvore são largos e que suas folhas pequenas e cheia de galhos. Enquanto um grupo fazia a árvore outro desenhava um baobá e sua chuva de flores.


 

No dia seguinte foi uma grande surpresa, pois eles entraram na sala e tinham folhas de papel A3 colada no chão. E a curiosidade ficou aguçadíssima, assim não fizemos a rotineira rodinha inicial e fomos logo para a atividade que era descobrir, em dupla, com giz de cera o desenho que ia se formar. Haviam diversas folhas de árvores em diferentes formatos. Após fizemos a rodinha e conversamos sobre essa parte da árvore e sua função bem como existem diferentes formas. Conhecemos então a folha do baobá e seu formato. Cada aluno recebeu uma e pintou.
 
  
Quando os alunos retornaram às atividades no dia posterior, retomamos ao livros e suas ilustrações, assim apresentamos para eles as estamparias africanas. Percebemos a geometria presente nos tecidos bem como suas belezas, as crianças comentaram muito sobre as cores e belezas dos tecidos. Apresentamos a forma círculo e vimos que essa forma geométrica não possui lados e nem ângulos. Assim fizemos flores com o círculo e com tecido, para representar as estamparias africanas que não encontrei em tecidos, imprimi vários temas da estamparia e fizemos flores com a forma geométrica triângulo. Enquanto um grupo faziam suas flores outro grupo pintavam estampas com os coloridos que perceberam. Outra atividade que fizemos nesse dia e que eles amaram, foi forrar um tecido no chão recheado de literatura afro-brasileira e convidá-lo para ler. Foi um sucesso!!!!

 

 
 
 

No penúltimo dia de atividades, para representar o retângulo trouxemos outra textura contrapondo a maciez do algodão, a lixa. Fizemos retângulos da lixa e pintamos com os dedos. Nesse dia também fizemos um convite com origami em formato de flores. Convite para quê? Trazer os responsáveis a compartilharem um pouco da nossa alegria de trabalhar com o livro Obax, uma forma da gente levar nossas ações para além dos muros da escola e principalmente politizar mais pessoas. Outra atividade que realizamos foi a construção de arte abstrata com formas geométricas de diferentes cores e tamanhos, para tal atividades trouxemos o livro "O país dos ângulos", revimos as formas geométricas e viramos grandes artistas.
 

  
  

No último e tão esperado dia os pais chegaram os nossos murais já estavam montado, sentaram-se a convite das crianças na rodinha e contamos a história para ele. Literalmente contamos porque as crianças estavam tão ansiosas que contavam comigo a história o que também confirmavam que o livro foi bem trabalhado e deliciosamente aceito por todos. Para finalizar convidamos os pais para observarem o nosso baobá e aconteceu o que todos mais queriam que acontecesse: nossa CHUVA DE FLORES. Um trabalho que teve a “boniteza”, o conhecimentos e a alegria dialogando da forma que a educação deve ter, e coloca mais uma dose de alegria nisso!!!!!