12 de outubro de 2014

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, MAIS ALGUMAS DICAS

Nessa leva de indicação de livros três falam diretamente das cultura e história afro-brasileira e os outros três são histórias cotidianas que trazem como protagonistas personagens negros. Essas propostas de leituras nos leva a refletir que também aplicamos a lei 10.639 quando trazemos livros com personagens negros, mesmo que esses não falem da temática diretamente. Definitivamente estamos ocupando espaços, porque não existe espaço vazio e os nos locais que não estivermos será ocupado por quem está de forma hegemônica. Os livros de princesas europeias não dizem, diretamente, que ser belo é ser somente como elas, mas apresentam a beleza somente daquela forma. Então temos que ter uma overdose de livros que falem do negro de todas as formas, mostrando a sua presença na sociedade brasileira.

Título: O Príncipe da Beira
Texto e Ilustração: Josias Marinho
Editora: Mazza Edições

O livro de ilustrações simples e claras, mas não menos belas, é quase que uma autobiografia. O pequeno menino que vive na beira do rio Guaporé, que adora subir em pé... pé de laranja, de abacate e no que mais der fruta gostosa e for possível subir me remete ao próprio escritor. Porém, caso não seja a sua história, com certeza é a das lembranças de sua infância, pois ele nasceu em uma cidade que fica na margem desse rio lindo, tão inspirador que saiu o poético e ingênuo livro do menino que é príncipe da sua vida e que brinca com o mundo ao seu redor. O livro se torna interessante, não só pela sensibilidade de trazer a poesia do dia a dia, mas por trazer como personagem principal desse enredo cotidianamente gostoso um menino negro, lindo e feliz. Pois assim que o negro deve ser retratado na literatura infanto-juvenil – lindo e feliz – para que as crianças negras sintam orgulho de sua imagem, para que as crianças negras se sintam representadas.

Título: Josephine na Era do Jazz
Autor: Jonah Winter
Ilustradora: Majorie Priceman
Editora: Martins Fontes

Sim, é isso mesmo que você está pensando, o livro fala de Josephine Baker. Você deve estar transbordando de felicidade, assim como fiquei quando uma amiga me contou do livro e não me coube quando encontrei para comprar. É excelente ter a biografia dessa forte mulher posta em um livro infanto-juvenil. É maravilhosos começar contando para os pequenos que essa diva da Broadway discursou na mesma cerimônia que Martin Luther King reanimou sonhos nos negros estadunidenses.
Mas voltemos ao livro. Ele é dançante, e não podia ser diferente. As palavras que algumas vezes se repetem, a disposição das ilustrações que envolvem a história fazendo com que tudo pareça ter som e movimento ao contar a história de Josephine, a mais bem paga showgril da época. Parece que o livro foi coreografado ao mostrar a força, determinação e, principalmente, autenticidade dessa belíssima mulher negra, militante e bem sucedida em uma época em que, para as mulheres, não era fácil ser nenhuma dessas três coisas.

Título: Meninas Negras
Autor: Madu Costa
Ilustrador: Rubem Filho
Editora: Mazza Edições

Esse livro é pequeno, mas vale adquiri-lo. Primeiramente porque tem como protagonistas três belas meninas negras. Segundo que ele propõe um resgate na ancestralidade delas. Terceiro e último ponto a favor do livro é que ele mostra isso tudo feito por uma professora. Esse último é um motivo interessante porque mostra, na sutileza das palavras, como uma professora que positiva a memória e história dos povos africanos faz com que as crianças se enxerguem e percebam que os saberes e sabores que vieram de lá e que aqui ficaram são seus.

Título: Ombela a Origem das Chuvas
Autor: Ondjaki
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Pallas Mini

Sou suspeita quando se fala de Ondjaki, todos livros dele que chegaram as minhas mãos devorei em um segundo. Esse acabou de sair do forno e conta um mito, o surgimento das chuvas partindo da história da deusa Ombela.
Ombela em umbundu é chuva. O livro fala que a história dela é contada pelos mais velhos. Coloca, a visão eurocêntrica maniqueísta por água abaixo literalmente, pois o livro fala do aprender a chover. Fala da relação familiar de troca de aprendizados. Mostra a relação do homem com a natureza e vice e versa.UFA!!!! Quantos elementos da cultura africana em um só livro!!! Bem, todos os livros que li dele são assim, um retrato das culturas desse diversificado continente. Ondjanka nos leva a uma viagem sem que percebamos, nos faz sentir parte da história e com a certeza de que conhecemos um pouco mais de nossas ancestralidade. E não posso deixar de comentar que a ilustrações de Rachel só nós deixa mais aconchegada com nossa ancestralidade, é como se os pingos salgados das lágrimas de Ombela caísse em nossos lábios.

Título: O Mundo no Black Power de Tayó
Autora: Kiusam de Oliveira
Ilustradora: Taísa Borges
Editora: Peirópolis

Arrisco-me a dizer, sem ser indelicada com todos os outros escritores sobre o tema, que esse é o melhor livro que aborda o cabelo crespo. É lindo, levanta a autoestima de qualquer um ao perceber a força do Black Power de uma menina tão pequena, que se espelha e encontra apoio na sua mãe. É interessante porque mostra a relação de uma mãe que reafirma toda a história e memória de seu povo nos belos cabelos de Tayó.
O livro é belo da primeira a última página, a cada descrição feita a alegre menina. É engrandecedor ver as palavra que exalta a cultura negra destacada a cada página e melhor ainda é ver os coloridos que dão o tom contagiante da bela Tayó. No fim, dá vontade de pedir para nossas mães trançarem nossos cabelos.
Outro ponto de positivíssimo é que quando você acha que acabou e vira a página encontra um glossário das palavras significativas do livro e uma breve explicação da força do movimento Black Power, o que só engrandece o livro.

Título: O Menino, o Jabuti e o Menino.
Autoria e Ilustração: Marcelo Pacheco.
Editora: Panda Books

O livro que de forma sensível trata a questão importantes como morte, vida e amizade. Livro lindo, sem texto mas com imagens que a cada página falam mais do que mil palavras. Seria triste se não fosse a ternura como trata a morte e a força que coloca nos encontros que a vida nos proporciona. Personagem principal é o jabuti, mas os meninos são essenciais para o andamento da história. O melhor de tudo, personagens negros em histórias sensíveis. É isso que precisamos para ocupar espaços nas prateleiras, nos corações e na memórias das crianças.


Um comentário:

  1. Ananda, obrigada pelas dicas. Fiquei curiosa com o livro sobre Josephine.

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